Quem viaja com frequência pelas estradas do Brasil já está acostumado a ver uma tabela afixada nas praças de pedágio com preços diferenciados de acordo com o tipo de veículo. Uma informação comum, mas que muitas vezes desperta dúvidas, é a cobrança feita por “eixo”, especialmente no caso de caminhões, carretas e ônibus. Mas, afinal, o que está por trás desse cálculo? Por que veículos com mais eixos pagam mais caro? E como essa conta é feita?
O sistema de pedágio brasileiro utiliza a contagem de eixos como uma maneira de medir o potencial de desgaste causado por cada tipo de veículo na via. Isso porque, quanto maior o número de eixos, maior tende a ser o peso total que o veículo transporta, e, consequentemente, maior o impacto sobre a estrutura da rodovia. Esse modelo busca equilibrar o custo de manutenção das estradas com a contribuição de quem mais as utiliza – e exige.
O que é um eixo e como ele é considerado
Um eixo, em termos simples, é o conjunto de rodas posicionadas transversalmente ao veículo e que sustentam parte de sua estrutura. Um carro de passeio tradicional tem dois eixos: um na frente, outro atrás. Já um caminhão pode ter três, quatro, cinco ou até mais eixos, dependendo do seu tamanho e capacidade de carga.
No momento da cobrança do pedágio, cada eixo é contado individualmente, e o valor final da tarifa é multiplicado pelo número de eixos. Por exemplo, se o valor de um eixo for R$ 10, um veículo com três eixos pagará R$ 30.
Quem define os valores e critérios
Os preços dos pedágios e a forma de cobrança são definidos pelos contratos de concessão firmados entre o governo (seja estadual ou federal) e as concessionárias responsáveis por administrar os trechos rodoviários. Esses contratos levam em conta uma série de fatores, como custo de manutenção da estrada, volume de tráfego, investimentos previstos em infraestrutura e padrão de qualidade exigido.
Além disso, as concessionárias devem seguir diretrizes da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), no caso das rodovias federais, ou dos órgãos reguladores estaduais. A ANTT, por exemplo, determina o modelo tarifário, a metodologia de reajuste e a padronização da cobrança por eixo.
Por que veículos com mais eixos pagam mais
A lógica é direta: veículos maiores e mais pesados geram maior desgaste no pavimento e requerem investimentos mais intensivos em conservação e segurança viária. Por isso, a cobrança proporcional por eixo é vista como uma forma de tornar o sistema mais justo. Em outras palavras, quem utiliza mais a estrada e impõe mais custos à sua manutenção, paga mais.
Essa equação também considera que veículos com mais eixos, na maioria das vezes, são usados para transporte comercial e estão circulando com o objetivo de gerar lucro, o que justifica sua maior contribuição para a sustentabilidade da malha viária.
Eixos suspensos: pagam ou não pagam?
Uma questão que gera dúvidas recorrentes é sobre os chamados eixos suspensos – aqueles que ficam levantados do solo quando o caminhão está descarregado ou com menor peso. Até pouco tempo atrás, mesmo eixos suspensos eram considerados na cobrança, o que gerava insatisfação entre os caminhoneiros, que alegavam estar pagando por um peso que não existia.
Em 2018, uma nova regulamentação da ANTT passou a permitir que eixos suspensos não sejam tarifados em algumas circunstâncias, desde que o caminhão esteja vazio. Essa mudança visa trazer mais justiça para o setor de transporte de cargas e reduzir custos logísticos. No entanto, a aplicação dessa medida ainda depende da tecnologia e da política de cada praça de pedágio, o que pode gerar variações entre estados e concessionárias.
A influência da tecnologia nas praças de pedágio
Com o avanço da tecnologia, o sistema de cobrança vem se modernizando. Sensores eletrônicos e sistemas de pesagem dinâmica permitem uma contagem de eixos mais precisa e ágil, sem a necessidade de parada total em algumas praças.
Além disso, a adoção de tags eletrônicas e sistemas de pagamento automático traz maior fluidez para as rodovias e torna o processo mais transparente para os usuários. Em breve, sistemas mais inteligentes poderão até considerar variáveis como peso transportado, tipo de carga e horários de circulação para oferecer tarifas ainda mais personalizadas.
Transparência e compreensão: direitos do motorista
É importante que o motorista tenha acesso às informações claras sobre o cálculo das tarifas. Toda praça de pedágio deve expor de forma visível a tabela de preços por tipo de veículo e número de eixos. Caso o usuário perceba cobrança indevida ou erro na contagem, ele tem o direito de solicitar a verificação imediata e, se necessário, registrar reclamação junto à ouvidoria da concessionária ou ao órgão regulador.
Pedágio como parte do custo logístico
Para empresas de transporte e motoristas autônomos, o pedágio é um dos principais itens no custo operacional de viagens. Por isso, entender como funciona essa cobrança e planejar rotas considerando o número de praças e os valores por eixo pode fazer diferença significativa na rentabilidade do negócio.
Além disso, o debate sobre a qualidade do serviço prestado pelas concessionárias em relação ao valor cobrado permanece ativo. Afinal, o pedágio não deve ser apenas uma taxa de passagem, mas uma contrapartida por estradas seguras, bem conservadas e eficientes.
Conclusão: entre o peso e o preço, o equilíbrio da malha rodoviária
O modelo de cobrança por eixo, apesar de parecer simples, carrega consigo uma lógica baseada no uso proporcional da infraestrutura. Em um país de dimensões continentais como o Brasil, com uma dependência significativa do transporte rodoviário, garantir a manutenção das estradas por meio de um sistema de pedágio equilibrado é essencial.
Entender essa mecânica ajuda motoristas, empresários e cidadãos a avaliar de forma mais consciente os custos de deslocamento e a participar do debate sobre melhorias na mobilidade e na infraestrutura do país.